sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Pontas de seta mais antigas têm 64 mil anos


Achado é visto pelos cientistas no contexto da técnica de caça de arco e flecha

É ponto assente para os antropólogos que a invenção do arco e flecha foi um marco para a humanidade. Mas em que momento exacto surgiu essa técnica de caça no percurso humano?

Não há uma solução exacta, mas a equipa da investigadora sul-africana Marlize Lombard, da Universidade de Joanesburgo, tem agora uma resposta concreta: isso aconteceu há pelo menos 64 mil anos. As pontas de flecha em pedra que o seu grupo encontrou em escavações numa caverna da África do Sul datam dessa época e são as mais antigas do género até hoje encontradas. Isso não significa, porém, que a invenção do arco e flecha não seja anterior, nota a equipa.

Os antropólogos sublinham num artigo publicado no número de Setembro da revista científica Antiquity que o seu achado "não representa necessariamente as primeiras pontas de flecha". Com a descoberta de novos sítios arqueológicos, "com novos conhecimentos e experiências, e novos repertórios de interpretação, outras provas de uso anterior [de pontas de seta] poderão ser encontradas", escrevem os autores.

A descoberta foi feita na caverna de Sibudu, em KwaZulu-Natal, África do Sul, cuja escavação é dirigida por Lyn Wadley, da universidade sul-africana de Witwatersrand. Mas a conclusão sobre a utilização das pontas de quartzo no contexto da técnica arco e flecha não foi imediata.

Uma vez que as partes orgânicas da arma, como a madeira, ossos, cordas ou penas muito raramente subsistem, os investigadores tiveram de fazer uma análise exaustiva do material encontrado, que incluiu, entre outros, 79 pedaços de pedra, entre lâminas e suportes, resíduos de resina (que terão servido como cola), vestígios de animais, como ossos, fragmentos de pêlos e também sangue em algumas pontas de pedra.

O estudo desses elementos e vários testes de arremesso em laboratório levaram os investigadores a concluir que aquelas pontas de seta integravam armas do tipo arco e flecha e é isso que defendem no artigo na Antiquity.

"Há muito que se especulava sobre a utilização de tecnologias complexas de caça em África nessa época recuada", explicou ao DN Marlize Lombard, contactada por e-mail. "O nosso artigo apresenta as provas mais antigas de caça com arco e flechas de ponta de pedra", sublinhou.

Sobre o significado que a utilização precoce daquela arma poderá ter, em termos da evolução cognitiva humana, a investigadora adianta que esse comportamento "está de acordo com muitas outros sinais de que os seres humanos naquela região eram idênticos a nós, do ponto de vista cognitivo". Marlize Lombard está aliás a trabalhar sobre essa questão "com um colega da Alemanha", como afirmou ao DN. "Vamos testar as potenciais implicações cognitivas da caça com arco e flecha e faremos um artigo sobre isso na altura certa".

Encontrados os artefactos, definida a metodologia, "sabemos do que estamos à procura", explica a investigadora. E uma pergunta, diz ela, fica no ar: "Até onde poderemos recuar na procura desta tecnologia de caça?" A busca vai continuar, isso é certo.


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