quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Tecnologia não evita subida do mar


Investigadores testaram cenários com mais ou menos emissões e com soluções técnicas de vários tipos

Ideias não faltam e algumas são até muito imaginativas. Por exemplo, colocar espelhos gigantes no espaço ou injectar dióxido de enxofre na atmosfera estão entre as hipóteses que os cientistas da geoengenharia já sugeriram para tentar travar o aquecimento global. Mas, diz agora uma equipa que testou várias soluções em simulações computorizadas, a geoengenharia não resolve o problema do aumento do nível do mar.

Até final do século, a subida dos oceanos deverá situar-se entre os 30 e 70 centímetros e afectará mais de 150 milhões de pessoas, alerta a equipa internacional que publicou um estudo na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

"A subida do nível do mar devido ao aquecimento global deverá afectar cerca de 150 milhões de pessoas que vivem em zonas costeiras baixas, incluindo algumas das maiores cidades do mundo", afirmou Svetlana Jevrejeva, do National Oceanography Centre, nos EUA, e uma das investigadoras que fez os cálculos.

A comunidade científica é consensual sobre os efeitos no clima da crescente concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera, devido às actividades humanas. As alterações climáticas, visíveis no aumento global da temperatura, na subida do nível do mar e nos fenómenos climáticos extremos mais frequentes são já o resultado dessa maior concentração de gases com efeito de estufa, dizem os climatologistas. A temperatura média da Terra, por exemplo, subiu 0,76 graus Celsius no último século e o nível médio dos oceanos está a aumentar 1,5 milímetros ao ano, com tendência para ficar mais elevado.

Cálculos anteriores, conforme os cenários de maior ou menor emissão de gases com efeito de estufa por parte da civilização humana, tinham já determinado que a subida do nível médio dos oceanos até final do século poderia andar entre os 18 e os 59 centímetros. Outros cálculos projectaram valores mais elevados, até 1,2 metros.

A equipa internacional que agora publicou o seu estudo na PNAS, vem propor um novo intervalo: entre 30 e 70 centímetros. Mesmo se houver recurso a soluções de geoengenharia, como a captura de carbo-no ou a utilização combinada de soluções que envolvam menos emissões e captura simultânea de uma parte das que forem produzidas.

A solução dos espelhos no espaço, para reflectir uma parte das radiações solares e, portanto, do calor que chega à Terra, foi descartada pela equipa, devido às suas gigantescas dificuldades técnicas.

A injecção de partículas (aerossóis) de dióxido de enxofre na atmosfera, para gerar o seu arrefecimento, também foi analisada pelos investigadores, mas a incerteza é tanta que a puseram de parte como solução possível. "Simplesmente não sabemos como o sistema da Terra iria reagir a uma acção dessas em larga escala", afirmou Svetlana Jevrejeva, sublinhando que substituir o controlo das emissões de gases com efeito de estufa pela soluções da geoengenharia seria "tratar apenas os sintomas e colocar um fardo cheio de riscos nas gerações futuras".


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