segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Balas não destroem buracos negros


Nas últimas décadas, a astronomia reuniu "uma grande quantidade de dados que mostram que o universo é habitado por muitos buracos negros", diz investigador português

Um investigador português e dois colegas de universidades norte-americanas demonstraram que é impossível destruir buracos negros caso se tente atingi-los com uma pedra ou bala, contrariando uma teoria anterior.

A investigação de Vítor Cardoso, do Instituto Superior Técnico (IST), envolveu também Enrico Barausse e Gaurav Khanna, das universidades norte-americanas de Maryland e de Dartmouth, respectivamente, e foi agora divulgada pelo IST.

O investigador português adiantou à Lusa que o estudo vai ser publicado, "dentro de uma ou duas semanas", na "Physical Review Letters", "a revista mais importante" desta área da Física.

Segundo Vítor Cardoso, as conclusões da equipa que integrou contrariam a teoria dos cientistas Ted Jacobson e Thomas Sotiriou, divulgada há um ano, de que era possível destruir os buracos negros, se fossem atingidos por uma bala certeira.

Nas últimas décadas, a astronomia reuniu "uma grande quantidade de dados que mostram que o universo é habitado por muitos buracos negros", responsáveis por uma variedade de fenómenos astrofísicos, explica o IST.

De acordo com as equações de Albert Einstein, lembrou o investigador português, esses objectos "têm um limite máximo de velocidade de rotação".

"Podemos pensar numa forma de os pôr a rodar mais rapidamente, atirando-lhes uma pedra ou uma bala. Mas as equações de Einstein diziam que seriam destruídos se rodassem acima de certo valor, aparecendo o que chamamos de singularidade nua", referiu.

Este foi o cenário que os anteriores investigadores tentaram demonstrar, o que, a ser verdade, destruiria ainda a Conjectura da Censura Cósmica, proposta por Roger Penrose, nos anos 70 do século XX, como um mecanismo para salvar a teoria de Einstein.

"O nosso trabalho é a favor desta conjectura, que diz que o nosso universo é tão gentil para connosco que proíbe singularidades nuas e que tem de haver um censor cósmico, um mecanismo, que impede que seja atirada uma pedra para um buraco negro para o destruir", frisou.

A equipa de Vítor Cardoso apercebeu-se de que, nos seus cálculos, os dois investigadores norte-americanos não consideraram que, quando a pedra ou bala é atirada, "são necessárias pequenas correcções" de trajectória, devido às ondas gravitacionais.

"Este fenómeno, apesar de pequeno, é suficiente para destruir os seus cálculos. O que mostrámos foi que, atendendo a esta reacção, a pedra não cai no buraco negro, porque este, como se soubesse de antemão, encolhe momentaneamente, para a evitar", disse.

Relativamente à importância destes resultados, Vítor Cardoso assegurou que "são boas notícias para quem acredita que a ciência descreve o universo" e que este "é aprazível, com ordem e lógica, sem violações da causalidade".


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