sábado, 12 de fevereiro de 2011

Os actuais endereços de Internet estão a acabar. E depois?


Os dois protocolos vão coexistir durante anos

No início do mês, a entidade americana responsável pelos endereços de Internet, chamada IANA, anunciou que tinha atribuído os últimos endereços disponíveis, o que deu azo a várias notícias sobre o esgotamento da Internet. Mas o que significa exactamente o fim dos endereços do chamado IPv4? Eis um guia para perceber melhor o assunto (mas não prometemos que seja simples).

O que são os endereços que se estão a esgotar?



Os endereços que estão a chegar ao fim são os endereços do chamado IPv4, uma tecnologia em que assentam as comunicações na Internet (mais informação em baixo). Não devem ser confundidos com endereços de sites Web, como www.publico.pt ou www.google.com.

O que é o IPv4?

IP é a sigla de Internet Protocol e o v4 significa que se trata da quarta versão deste protocolo, que foi originalmente desenvolvido pelos “pais” da Internet, Vint Cerf e Bob E. Kahn, na década de 1970.

Cada dispositivo ligado à rede tem um endereço de IP, que é um conjunto de números separados por pontos. Por exemplo: 216.239.51.99. A rede usa este endereço para encaminhar os pacotes de dados do destinatário para o receptor (o endereço de IP do destinatário e o do receptor estão incluídos em cada pacote de dados).

Um exemplo prático: um endereço de Web (por exemplo, Google.com) tem um endereço de IP correspondente, para que o computador do cibernauta possa comunicar com o computador onde o site do Google está alojado.

Quantos endereços pode ter o IPv4?

O protocolo permite quase 4,3 mil milhões de endereços (4.294.967.296, para ser exacto). O IPv6, que está agora a ser introduzido, permite um número de endereços várias ordens de grandeza superior: teoricamente, 3,4×1038 endereços (é um número com 39 algarismos).

O limite do IPv4 não significa, contudo, que só possa haver 4,3 mil milhões de dispositivos ligados. Os fornecedores de acesso, por exemplo, atribuem endereços de IP temporariamente aos seus clientes. Quando um IP deixa de estar em uso por um cliente, pode ser atribuído a outro.

Também é possível estabelecer uma rede que se ligue ao fornecedor de acesso apenas através de um único endereço de IP. Se um utilizador tem em casa cinco aparelhos que usam a mesma ligação (computadores, tablets, smartphones), está a usar um router (o aparelho responsável por distribuir a ligação) e o fornecedor de acesso reconhece apenas um único endereço de IP para essa casa. Em muitas empresas, acontece algo semelhante.

Porque está o IPv4 a esgotar-se?

Os endereços permitidos pelo IPv4 são atribuídos pela IANA, em blocos, a entidades que os gerem em diferentes partes do mundo. Os últimos blocos de endereços IPv4 foram atribuídos a 3 de Fevereiro.

Estas entidades distribuem depois os blocos de endereços pelos fornecedores de acesso (ou, eventualmente, por outras entidades que os possam requisitar). Estima-se que a entidade responsável pela região Ásia/Pacífico seja a primeira a esgotar os endereços que tem disponíveis.

Os endereços estão a esgotar-se devido ao aumento do número de pessoas ligadas à Internet (vários países em desenvolvimento estão numa fase de informatização) e por causa do número de aparelhos que cada pessoa usa – o uso de dispositivos móveis, como os smartphones, está a crescer significativamente.

O que acontece agora que os últimos endereços foram entregues?

Nada de especial. Com os endereços IPv4 esgotados (embora já estejam atribuídos, muitos não estão ainda em uso), a Internet continuará a funcionar normalmente e os fornecedores de acesso poderão continuar a usar estratégias como as descritas acima para contornar os limites.

Porém, a IANA e as demais entidades responsáveis pela gestão deste recurso em vários pontos do globo estão a impulsionar a adopção do protocolo IPv6, para que haja um número muito maior de endereços disponíveis.

A v6 é melhor do que a v4?

Para além do número de endereços, há várias diferenças técnicas entre as duas versões do IP. Uma delas é a possibilidade de transportar em IPv6 pacotes de informação maiores. Outra é a simplificação de uma parte de cada pacote de dados, o que permite um encaminhamento mais eficaz ao longo da rede. E há ainda no IPv6 mecanismos de segurança e garantia da integridade dos dados que não existem na versão anterior.Uma Internet assente em IPv6 também permitirá, em teoria, que cada dispositivo tivesse de facto um endereço único e permanente na rede, o que tornaria as comunicações mais transparentes.

Quando vai arrancar o IPv6?

Já há dispositivos na rede a funcionar em IPv6. As duas versões do protocolo deverão coexistir durante anos. Porém, para que isto aconteça, é necessário que a infra-estrutura da rede suporte as duas tecnologias.

Para isto, os fornecedores de acesso, bem como quem disponibiliza conteúdos online, precisam de fazer adaptações (o que inclui adaptações nos equipamentos usados pelos clientes – nomeadamente, modems domésticos e placas 3G). Em alguns casos, bastará uma actualização do software; noutros, poderá ser preciso substituir os equipamentos.

Porque não se passa logo tudo para IPv6?

Não há grande motivação para a mudança, que custa dinheiro. Nenhuma das aplicações e conteúdos que actualmente usam a Internet (vídeo, e-mail, páginas Web, chamadas de voz) precisa do IPv6 para funcionar – e, por isso, há um efeito circular: se nenhuma aplicação precisa do IPv6, não há razão para adaptar a infra-estrutura; se a infra-estrutura não é adaptada, ninguém tem interesse em desenvolver uma tecnologia que possa tirar partido do IPv6.

O que está a ser feito em Portugal?

A Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN, responsável pelos domínios .pt) tem feito pressão junto dos operadores de comunicações para acelerar a mudança.

A FCCN é também responsável pela Rede Nacional de Investigação e Ensino, que liga instituições de ensino superior e de investigação e disponibiliza uma página que mostra o nível de compatibilidade com IPv6 das diferentes instituições nesta rede.

Então e o IPv5?

Uma pequena parcela de cada pacote de dados que circula na Internet é reservada para identificar a versão do protocolo usada. Um pacote de dados é uma sequência de bits e quatro destes bits são usados para a versão do protocolo.

A partir de finais da década de 1970, começou a ser desenvolvido um protocolo pensado para transmissões de voz ou vídeo – essencialmente, informação que precisasse de uma transmissão contínua. Este protocolo, embora não tenha sido chamado IPv5, acabou por usar o número 5 naquele espaço de quatro bits. Logo, teve de se saltar uma versão.

fonte: Público

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