sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A cobra pitão pode ensinar-nos a ter um coração grande e saudável


Pitão da espécie utilizada neste estudo 

Os pitões são cobras constritoras que chegam a alimentar-se só uma vez por ano e podem comer veados. Ficam enormes, mas não é só por terem engolido outro bicho. Os órgãos também crescem. O coração aumenta 40% em três dias. Fazem isto de uma forma exímia, sem efeitos secundários, e os investigadores aprenderam o truque, testaram em ratinhos e acreditam que um dia poderá servir para tratar pessoas, mostra um estudo da Science.

Há um bom crescimento do coração e um mau crescimento do coração e os pitões praticam o primeiro. Estas cobras que vivem na África e na Ásia, e podem alcançar os oito metros de comprimento, matam as presas enrolando-se e apertando-as com os seus anéis. Há vezes que ficam um ano sem se alimentar, numa espécie de torpor, mas quando engolem um animal o metabolismo dispara.

“Os pitões desenvolveram uma forma de lidar com essa enorme refeição”, disse Leslie Leinwand, investigadora da Universidade do Colorado e coordenadora do estudo, durante uma entrevista publicada no podcast da Science. O metabolismo torna-se 40 vezes superior e os órgãos acompanham esta actividade. “O coração cresce enormemente num período de tempo muito curto e os tecidos são também depois digeridos num tempo muito curto”, acrescentou.

Isto já era conhecido, mas a equipa descobriu mais. Descobriu que durante este pico de actividade fisiológica, o plasma sanguíneo enchia-se de várias substâncias, entre as quais ácidos gordos, numa quantidade que na maioria dos mamíferos seria altamente nocivo para o coração. 

Mas no Python molurus, uma espécie asiática que foi a estudada pela equipa, o órgão que bombeia o sangue estava bem. As células musculares tinham aumentado de tamanho e produziam uma enzima que as protegia dos efeitos nefastos daquele hiper-metabolismo.

O passo seguinte foi tentar perceber quais eram os compostos no sangue que causavam esta mudança. Os cientistas acabaram por encontrar três moléculas específicas de ácidos gordos que quando injectadas em pitões que não tinham sido alimentadas, provocavam o crescimento saudável do coração. Mais, os cientistas testaram estas moléculas em ratos e obtiveram o mesmo resultado.

“Injectámos ratos saudáveis com os ácidos gordos e obtivemos um crescimento de massa cardíaca significativo, e pudemos ver que esse tipo de crescimento é o que chamamos de benéfico”, explicou a cientista. 

Nos humanos também existe este tipo de crescimento saudável do coração, que acontece aos ciclistas ou aos nadadores. Mas exige uma actividade grande, é lento e o coração aumenta apenas em dez por cento. Muitas vezes o crescimento do coração pode estar associado a doenças, como a cardiomiopatia hipertrófica, que é uma das razões da morte súbita nos jovens. 

Nada disto acontece nos pitões e nos ratos tratados, por isso a equipa de Leslie Leinwand está agora a tentar compreender os mecanismos fisiológicos e genéticos de protecção do coração, para tentar encontrar uma terapia para as doenças humanas. Neste caso com a ajuda literal da banha da cobra.

fonte: Público

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