sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Investigação sobre vírus H5N1 transmissível pelo ar tem de continuar, diz cientistau


O H5N1 foi detectado pela primeira vez em 1997 

Um cientista que está a investigar uma versão capaz de ser transmitida pelo ar do vírus H5N1 (o vírus da gripe das aves, que é potencialmente letal), disse nesta quarta-feira que têm que o deixar continuar os estudos se quiserem prevenir futuras pandemias mortais. 

Apesar de ter declarado na semana passada uma moratória de 60 dias na sua pesquisa, para aliviar os temores da comunidade científica internacional, Yoshihiro Kawaoka argumentou na revista Nature que era urgente e vital continuar o seu trabalho.

O cientista pertence à Universidade de Tóquio e à Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, e é o líder de investigação de uma das duas equipas que recentemente mostraram que o vírus H5N1 pode ser transmitido por gotículas levadas pelo ar. O seu trabalho está no centro de uma discussão que questiona se estas descobertas devem ser censuradas. 

Em Dezembro, um comité de acompanhamento pediu às duas revistas científicas líderes mundiais, Nature e Science, para não publicarem detalhes dos dois estudos por medo que a informação pudesse ser utilizada por bioterroristas. As revistas aceitaram os estudos mas ainda não disseram se os vão publicar na íntegra. 

Na semana passada, as duas equipas – a de Kawaoka e outra equipa liderada por Ron Fouchier, que trabalha no Erasmus Medical College, na Holanda – disseram que iriam temporariamente suspender a sua investigação por causa dos receios internacionais.

Mas Kawaoka escreveu agora na Nature que seria “irresponsável” e perigoso parar com a investigação do vírus da gripe das aves. Os vírus da gripe estão constantemente a mutar e podem causar pandemias. O cientista disse que algumas mutações preocupantes previstas em laboratório já foram detectadas em vírus H5N1 que circulam naturalmente em alguns países. 

“Algumas pessoas argumentam que os riscos destes estudos – mau uso e a libertação acidental do vírus, por exemplo – pesam mais do que os benefícios”, escreveu. “Oponho-me a isso, o vírus H5N1 que circula na natureza já é uma ameaça, porque os vírus da gripe mutam constantemente e podem causar pandemias que causam uma grande perda de vidas.” O investigador exemplificou com a gripe espanhola que em 1918 e 1919 matou entre 20 e 50 milhões de pessoas em todo o mundo. 

“Não podemos desistir”

O H5N1 foi detectado pela primeira vez em 1997, em Hong Kong, e devastou bandos de patos e galinhas no Cambodja, China, Egipto, Índia, Indonésia e Irão. Chegou ao Médio Oriente e à Europa pelas aves selvagens.

As análises laboratoriais confirmaram que desde 2003, 578 pessoas foram infectadas pelo vírus. Dessas, 340 morreram – um rácio de mortes nunca visto antes num vírus da gripe. Por comparação, a gripe espanhola matou 0,5% das pessoas que infectou, e uma gripe normal nos Estados Unidos, mata cerca de 0,003% das pessoas que a apanham.

Na forma como é conhecido, as pessoas só podem contrair o H5N1 se tiverem um contacto muito próximo com patos ou galinhas ou outras aves infectadas, e não em contacto com outras pessoas infectadas. Mas as equipas de Kawaoka e Fouchier descobriram que induzindo apenas três mutações, o vírus torna-se transmissível pelo ar entre furões, o modelo animal que é utilizado para testar como é que o vírus se comportaria nas pessoas.

Não se sabe se o mutante do vírus H5N1 pode espalhar-se entre pessoas de uma forma semelhante, mas teme-se que sim, o que causaria uma pandemia altamente letal. O cientista argumentou que “seria irresponsável não estudar os mecanismos que estão por trás” dessas mutações que podem acontecer, e disse que a investigação tem implicações na capacidade com que o mundo tem para se preparar para outra pandemia da gripe. 

“É imperativo que estes vírus sejam monitorizados de perto para que seja alvo de esforços de erradicação e de contra-medidas”, escreveu. O cientista argumentou que a medida de censura do Comité Científico de Biosegurança dos Estados unidos não elimina a possibilidade da experiência ser replicada por outros, com o objectivo de querer causar algum mal. Na realidade, disse, há informação disponível suficiente para alguém construir um vírus transmissível por ar.O investigador sugeriu que em vez de se parar ou censurar a investigação, a comunidade intencional deveria discutir convenientemente como se poderá minimizar o risco ao mesmo tempo que suporta as descobertas científicas. “Os cientistas que investigam a gripe (incluindo eu) acordaram uma moratória de 60 dias na investigação sobre a transmissão do vírus da gripe por causa da controvérsia presente”, disse. “Mas o nosso trabalho continua a ser urgente – não podemos desistir.”

fonte: Público

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