terça-feira, 31 de julho de 2012

Crer em maluquices é parte da natureza humana, afirma céptico


Americano Benjamin Radford, editor da revista cética "Skeptical Inquirer", em palestra

Investigador paranormal Ben Radford esteve em debate na Folha.

REINALDO JOSÉ LOPES

Benjamin Radford, investigador de supostas ocorrências paranormais e editor da revista americana "Skeptical Inquirer", confessa sem muito constrangimento que tem um carinho especial pelos chupa-cabras, supostos monstros destruidores de rebanhos da América Latina. 

Já os contactos com pessoas que acreditam piamente ter sido sequestradas por extraterrestres não foram tão divertidos, ao menos na experiência desse "céptico profissional". "Eles são a minha maior fonte de ameaças de morte", contou ele em debate na Folha na última sexta. 

Radford participou de uma conversa com leitores do jornal, em mesa-redonda sobre pensamento crítico, cepticismo e ciência na qual também estavam presentes Kentaro Mori, editor do site "Cepticismo Aberto", e este jornalista. 

MISSÃO: ENTENDER

Nascido no Novo México e formado em psicologia, Radford, 41, faz parte do quadro de editores da "Skeptical Inquirer" desde 1997, período durante o qual também ajudou a investigar supostos fenómenos que a ciência não conseguiria explicar - de fantasmas a monstros em lagos - Estados Unidos afora. 

Ele recusa, porém, o rótulo de desmancha-prazeres ou de pessoa de cabeça fechada. "Minha missão não é desmascarar ou desmistificar os fenómenos, mas tentar entendê-los", diz. A formação em psicologia, segundo ele, ajuda a levar em conta as predisposições da mente humana que acabam levando as pessoas a acreditar de forma pouco crítica em supostos fenómenos sobrenaturais. 

"Eu acho que essas crenças sempre continuarão connosco, elas são parte da condição humana", resume. 

DELÍRIO DE DAWKINS

Talvez por ter isso na cabeça, Radford afirma não ficar muito à vontade com a associação entre conhecimento científico e ateísmo defendida por alguns dos mais influentes divulgadores de ciência do mundo, como o zoólogo britânico Richard Dawkins. Para Radford, "forçar as pessoas a escolherem um lado, ou a ciência ou a religião, pode ser contraproducente, e discordo de Dawkins nesse ponto". 

"Não gosto da posição binária, de estar comigo ou contra mim. Se você é religioso, para mim tudo bem. Vou continuar dormindo de noite sem problema e não vou tentar converter você", declarou. 

Ele afirma conhecer cépticos muito rigorosos que, mesmo assim, acreditam em Deus. "Por outro lado, é preciso reconhecer o trabalho fantástico em favor da ciência que Dawkins faz ao explicar a teoria da evolução para o público", ressalta. 

Durante a conversa, ele se revelou pessimista em relação à popularidade atual do pensamento crítico e da ciência. "Uma coisa que claramente não está dando certo é a educação", disse ele. "Precisamos fazer com que o pensamento crítico seja uma ferramenta para a vida, ensinada nas escolas, como parte integrante das disciplinas." 

O clima descontraído do debate permitiu até uma exibição pública de tatuagens inspiradas pela ciência: um dos presentes na plateia resolveu mostrar o desenho de um átomo em seu pulso, o que levou Radford a mostrar a tatuagem de um microscópio em seu peito. 

"Acho que o microscópio é um bom símbolo do que tento realizar com meu trabalho", explicou ele. 


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