terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Exumação da família real brasileira desmente mitos


A arqueóloga e historiadora Valdirene do Carmo Ambiel e o crânio de D. Pedro I


Dom Pedro I, o primeiro imperador brasileiro, e suas duas mulheres, as imperatrizes Dona Leopoldina e Dona Amélia




O esqueleto de D. leopoldina


O esqueleto de D. Pedro I

Investigadores brasileiros exumaram os corpos de membros da família imperial e fizeram uma série de exames que desmentem mitos sobre a morte de Dona Leopoldina, além de revelarem facetas da vida do primeiro imperador do Brasil.

De acordo com o investigador Paulo Saldiva, professor titular da faculdade de medicina da Universidade de São Paulo (USP), a ossada de Dona Leopoldina, primeira mulher de D. Pedro I do Brasil [D. Pedro IV, em Portugal] não possuía marcas de fraturas, o que desmente a versão de historiadores que apontam uma queda, em consequência de uma discussão com o marido, como causa da morte.

"Existia uma versão, não sei com que base, de que a morte dela teria sido ocasionada por uma fratura, gerada numa queda depois de uma discussão com D. Pedro [que a teria empurrado]. Pode ter ocorrido a queda, mas não o suficiente para que isso causasse a morte", reforça o patologista responsável pelos exames.

Já na ossada de D. Pedro IV foi possível observar duas fraturas associadas a acidentes de equitação. O detalhe ajudou a equipe a entender ainda o que terá ocasionado o diagnóstico, anos mais tarde, relativo ao mau funcionamento de um de seus pulmões.

"Numa dessas fraturas, provavelmente foi atingido o pulmão, mas não foi diagnosticado na hora e isso gerou o pneumotórax [quando uma lesão na pleura faz com que um dos pulmões 'cole' ou 'murche', na linguagem popular]", explica.

Alguns anos após o acidente, uma autópsia feita no Porto aponta que um dos pulmões do imperador estava totalmente fechado. A causa de sua morte terá sido uma tuberculose.

Para o investigador, os exames permitem aproximar a história do "indivíduo", mostrando que este ainda manteve a "coragem" e disposição para enfrentar "grandes batalhas" mesmo diante da necessidade de maior esforço, que certamente passou a sentir após a lesão.

D. Pedro foi o responsável por conseguir a independência do Brasil em relação a Portugal, em 1822. O filho de D. João IV e Carlota Joaquina ainda regressou a Portugal, tendo sido coroado como D. Pedro IV, em 1826. Pouco tempo depois, o monarca abdica do trono a favor de sua filha, Dona Maria II.

Já o corpo de Dona Maria Amélia, sua segunda esposa, era o melhor conservado porque foi único dos três a ter sido embalsamado. Na avaliação do pesquisador, os corpos não foram conservados com o cuidado que mereciam.

"Continuo a achar que o Brasil podia ter cuidado um pouco melhor desses personagens. Percebemos que embalsamar não era um costume da família real, não temos informação de como foi feita a de Dona Amélia, provavelmente foi feita em França", completa.

O trabalho foi realizado com a autorização de descendentes da família real no Brasil e os corpos já foram repostos nas respectivas sepulturas.

A análise cadavérica foi feita separadamente em cada um dos corpos, ao longo de uma única noite, e precisou de planeamento e esforço especiais para garantir o retorno dos restos mortais em perfeito estado.

"Durante a abertura das covas a família estava presente, havia padre. Era importante garantir o transporte adequado, até pela má conservação do esqueleto. Não podíamos retirar ossos e devolver um saquinho de pó", ressaltou.

As ossadas passaram por biópsias e exames radiológicos que permitirão ainda, no futuro, a reconstituição da face, altura e até movimentos em hologramas (imagens tridimensionais).

O trabalho foi dirigido pela historiadora e arqueóloga brasileira Valdirene do Carmo Ambiel.


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