segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Peças do neolítico viajaram 1200 km há 6000 anos


Seis pedaços de obsidiana, uma rocha vulcânica vidrada usada para ferramentas durante o Neolítico, 'viajaram' 1200 quilómetros da ilha da Sardenha até Barcelona há 6000 anos, segundo uma equipa do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) espanhol.

"Trata-se da máxima distância documentada até à data no transporte desta matéria-prima, uma rocha usada para elaborar ferramentas no Mediterrâneo Ocidental, durante o Neolítico", refere o CSIC, em documentos enviados à Lusa.

Dados da investigação, divulgados hoje, revelam que as seis peças de rocha negra encontradas em análises a antigos túmulos na zona de Barcelona provêm, concretamente, de uma das pendentes do maciço vulcânico de Monte Arci, na ilha de Sardenha.

As seis peças analisadas -- cinco folhas e uma matriz, a massa de matéria da que se extraíram as folhas -- teriam, segundo os investigadores, mais relação com o prestígio social dos seus donos do que com o fim para o que foram elaboradas, já que foram depositadas em túmulos individuais analisados.

"O estudo das impressões de desgaste dos restos demonstra a sua utilização em atividades quotidianas, de modo que não se trata de oferendas funerárias", explicam os investigadores.

"No entanto, a rareza desta matéria-prima no contexto geográfico que temos estudado e a provável inacessibilidade a estes produtos da maior parte da sociedade outorgam-lhes uma exclusividade específica", explica Xavier Terradas, investigador do CSIC, Instituição Milà i Fontanals e um dos autores do estudo publicado no Journal of Archaeological Science.

Os seis restos analisados provêm de cinco túmulos localizados na província de Barcelona: Can Tiana (Ripollet), Bòbila Madurell (Sant Quirze do Vallès), Can Gambús (Sabadell), Minas de Gavà (Gavà) e La Serreta (Villafranca de Penedès).

Os investigadores utilizaram a fluorescência de raios X e uma técnica conhecida por A-ICP-MS (Laser Ablation Inductively Coupled Plasma Mass Spectrometry), que permite analisar a 'impressão digital' química da peça e compará-la com o seu local de origem.

"Este tipo de vidro vulcânico negro foi profusamente explorado durante o Neolítico. Os restos que analisámos percorreram mais de 1.200 quilómetros, considerando que foram transportados por terra, chegando a ultrapassar os Pirenéus, já que é improvável uma navegação em mar aberto", explica o pesquisador do CSIC.

Segundo o CSIC, estes grupos neolíticos chegaram a participar em verdadeiras redes de intercâmbio de matérias, produtos e ideias mediante a difusão de produtos locais, como os ornamentos corporais elaborados com variscita das minas de Gavà ou o sal de Cardona (Barcelona).

Ao mesmo tempo, recebiam produtos de fora, como os elaborados com sílex de origem provençal, machados de procedência alpina, ou como outros artefactos talhados com obsidiana.

"Todos estes restos são singulares pela rareza das matérias com as que foram elaborados, procedentes de locais a centenas de quilómetros de distância e provavelmente não ao alcance de toda a população", disse.

"Fica claro que nos encontramos perante uma série de produções artesanais especializadas, com um objetivo claramente dirigido para o intercâmbio, cujo alcance se manifesta ao longo de um vasto território europeu", concluiu Terradas.

Os restos analisados no estudo serão expostos a partir de 18 de novembro na Residência de Investigadores, em Barcelona.


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