quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Praia jurássica descoberta em Porto de Mós


Um Crinoide - Lírio do Mar - com cerca de 166 milhões de anos.Fotografia © Direitos Reservados

Vestígios de um fundo marinho/praia jurássica foram descobertos numa antiga exploração de pedra desativada há vários anos, na freguesia de S. Bento, no concelho de Porto de Mós.

A descoberta foi revelada, na última reunião de Assembleia Municipal de Porto de Mós, por António José Teixeira, geólogo/arqueólogo e deputado do PS. Segundo o investigador, que está a estudar os vestígios encontrados no âmbito de uma tese de doutoramento, os "Fósseis de equinodermes da Pedreira da Ladeira" encontrados são do período "Jurássico médio 170-166 milhões de anos", explicou António José Teixeira à Agência Lusa. "De acordo com o reconhecimento paleontológico realizado até agora, foram identificados cerca de 60 exemplares, entre moldes e restos fossilizados de três grupos de equinodermes: Equinoides (ouriços-do-mar), asteroides (estrelas-do-mar), Crinoides (lírios-do-mar) e ondas do mar fossilizadas, (Ripple marks)", revelou o investigador.

António José Teixeira explicou que a paisagem deste lugar - que é hoje a Serra de Aire e Candeeiros - era "uma planura litoral, pejada de zonas inundadas por lençóis de água, com um a dois metros de espessura". Nessa altura, "a Europa ainda se encontrava ligada ao continente norte-americano e, entre a Ibéria e a Terra Nova, no Canadá, penetrava um mar pouco profundo de águas tépidas e límpidas, propícias à formação de recifes de coral", acrescentou, ao salientar que o "clima era quente e húmido e a vegetação exuberante". Considerando que a descoberta "reveste-se de uma importância científica extrema", o geólogo esclareceu que "este testemunho geológico/paleontológico" evidencia "cerca de dois mil metros quadrados de um antigo fundo marinho/praia, com inúmeras espécies de estrelas-do-mar, ouriços-do-mar, lírios do Mar, sulcos feitos por animais marinhos, intraclastos e as próprias ondas do mar estão fossilizadas".

"Neste contexto de biodiversidade paleontológica, passeavam-se nestas margens de um mar jurássico tropical a subtropical, dinossauros, como aqueles que têm sido encontrados no concelho de Porto de Mós e até aquele que foi identificado no concelho da Batalha, que vem provar que a Europa ainda se encontrava ligada ao continente norte-americano ficando assim marcado num dos muitos estratos de calcário, do Maciço Calcário Estremenho", informou António José Teixeira.

O geólogo defende a importância desde sítio geológico "pela sua dimensão, raridade, beleza e, acima de tudo, pela sua geodiversidade". A descoberta já despertou o interesse de universidades. António José Teixeira referiu que os investigadores irão "centrar-se no potencial fossilífero que a jazida tem, bem como em aspetos sedimentológicos relevantes para o estudo não só deste fundo marinho/praia do Jurássico médio", como também "para uma nova contribuição para o conhecimento da geologia e paleontologia regional, nacional e até internacional". Para José António Teixeira, "dada a raridade deste tipo de ocorrência de uma associação de fósseis de equinodermes articulados, isto é, ocorrendo com elementos do seu esqueleto preservados 'in situ', é, de facto, uma ocorrência singular e rara ao nível de jazidas de invertebrados do Mesozoico em Portugal e raríssimo em termos internacionais", acrescentou. Para o geólogo, este "possível geomonumento pode ajudar o concelho de Porto de Mós e a região a potenciar uma nova vertente económica, baseada no conhecimento científico, gerando diretamente uma riqueza económica relacionada com investigação científica".

Além disso, "com a criação de um geoparque com outros geomonumentos importantes de Porto de Mós em conjunto com os concelhos vizinhos, onde existem geosítios idênticos", poderá também gerar "uma economia indireta vocacionada para o chamado geoturismo, integrando-o numa história interdisciplinar mais vasta a nível local e regional".


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