segunda-feira, 28 de junho de 2010

Vento explica fim da Idade do Gelo



Mudanças na sua circulação ajudaram a aquecer hemisfério sul evitando a entrada noutro período glaciário

Há 20 mil anos grande parte da Terra estava coberta de gelo. Mas num piscar de olhos - em termos geológicos - os glaciares recuaram para dar lugar a um clima ameno que permitiu o florescimento da civilização humana. O fim da última Idade do Gelo, dizem os cientistas, deveu-se a uma alteração na órbita da Terra que fez com que o Norte recebesse mais luz solar. O que sempre intrigou os especialista foi como é que esse aquecimento se estendeu tão rapidamente ao resto do planeta. A resposta pode estar no vento. Ou melhor, na alteração do regime de ventos.

Um grupo de investigadores propõe um cenário que começa com o desaparecimento da cobertura de gelo da América do Norte e da Europa, há 20 mil anos. Oprimeiro acto foi causado por uma variação orbital que fez com que chegasse mais radiação do sol ao hemisfério norte, a suficiente para derreter os glaciares, fazendo com que grandes massas de gelo abrissem caminho até ao mar.

A chegada de água doce e fria ao oceano Atlântico bloqueou a corrente do Golfo, que leva água quente até ao norte, fazendo com que o gelo se espalhasse pelo Atlântico norte e trazendo Invernos gelados à Europa. Até aqui a teoria parece não fornecer muitas explicações para o aquecimento do planeta, pelo contrário.

A resposta está na ligação entre a circulação oceânica e o regime de ventos, argumentam os cientistas, num artigo publicado na última edição da revista Science .

Com o Atlântico norte gelado os ventos quentes tropicais foram empurrados para Sul, causando períodos de seca em grande parte da Ásia e levando chuva a regiões normalmente áridas da América Latina. Chuva mas também ar e água mais quente, aquecendo o hemisfério sul.

Assim, há aproximadamente 18 mil anos, os glaciares das montanhas da América do Sul e Nova Zelândia começaram a a derreter e dois mil anos depois o recuo era extraordinário.

A mudança no regime de ventos fez também com que a atmosfera puxasse mais dióxido de carbono (CO2) do oceano. Os registos no gelo mostram que entre há 18 mil e 11 mil anos atrás os níveis de CO2 aumentaram de 185 partes por milhão para 265 partes por milhão. Este aumento ocorreu na mesma altura em que a orientação do eixo do planeta estava a mudar e pode ter impedido que a Terra entrasse noutro período glaciário.

Para sustentar esta teoria os cientistas recorreram a dados climáticos recolhidos no gelo polar e em sedimentos do fundo marinho. Mas também a uma revisão de vários estudos recentes para explicar como é que o aquecimento no Norte se estendeu tão rapidamente ao sul do planeta.

A teoria precisa de ser testada, mas é uma hipótese interessante, reconhecem outros especialistas em climatologia. "Estas mesmas relações, que tiraram a Terra da última Idade do Gelo, continuam activas hoje e vão quase de certeza desempenhar um papel nas futuras alterações climáticas", lembra Bob Anderson - um dos autores do estudo.


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